Driblando o Tédio

Nós pacientes oncológicos sabemos o quanto as longas internações são chatas e tediantes. Eu já tive duas experiências em que tive que ficar 40 dias internada e agitada como sou foi muito dificil driblar o tédio e a falta de ter o que fazer.

A primeira internação com esse longo tempo reclusa foi quando tive pancreatite e pneumonia. Foram 40 dias sendo 36 sem poder comer e beber nada, inclusive ontem mesmo estava falando pra uns amigos, uma das piores coisas além das quedas de glicemia e das fisioterapias intensas pros pulmões era a falta do que ter o que fazer, porque agente só dá valor pra alimentação quando agente não pode comer.

Deixa eu explicar melhor. Quando se esta internada a maioria dos hospitais oferecem seis refeições diárias, ou seja o tempo todo você está comendo. Nesta internação foram 36 dias sem ao menos ver uma comida. Querendo ou não quando você esta comendo, esta distraido e tem noção do tempo que passou pelos horários em que a comida é trazida. Agora, imagina ficar trancada dentro do quarto o dia inteiro chegar ao fim do dia e pensar. Nossa hoje não comi e nem bebi nada, o que eu fiz o dia inteiro?

Não sei explicar direito, mas é uma sensação muito esquisita. Além disso, esta foi minha primeira longa internação e o hospital em que eu estava não tinha internet. Para uma pessoa com vinte anos ficar em um quarto trancada sem internet era bem complicado. Por isso tive que pensar em alternativas para driblar o tédio e ai vão algumas dicas de entretenimento para quem passa por isso.

- Palavras Cruzadas (Elas são ótimas, enriquecem seu vocabúlario e ainda são baratinhas.Tem coisa melhor?)

- Quebra Cabeças (Nessa internação devo ter feito uns cinco quebra cabeças de 500 peças, era muito divertido, desafiante, as visitas que chegavam interagiam comigo me ajudando a montar esquecendo de falar sobre doença etc, porque não tem coisa mais chata do que você estar em um hospital e cada visita que chega ficar explicando tudo denovo, todos os acontecimentos etc. Pra quem nunca fez comece com um menor de 250 peças e vá aumentando, eu garanto, é entretenimento garantido)

- DVD e Video Game ( Hoje em dia estes aparelhos são super pequenos e portáteis e a maioria dos quartos de hospital tem uma TV com entrada de vídeo, se não puder comprar, peça para os amigos e parentes emprestado, garanto que vai chover oferta de empréstimo! Para os vídeos, além das locadoras, nas lojas Americanas tem vários titulos baratinhos, além de também pedir emprestados pras pessoas)

- Livros (Eu aaaaamo ler, na época da pancreatite li toda a saga Crepúsculo e mais alguns, no transplante li mais outros que também eram ótimos, mas eu tive um pouco de dificuldade de concentração porque como entram muitas pessoas no quarto o dia inteiro é um pouco dificil conseguir ler bem, tem sempre alguem interrompendo)

- Internet (Se possível o computador e a internet são grandes aliados contra o tédio, neles você pode ler livros, ver filmes, jogar jogos, falar com os amigos quando estes não podem te visitar, por exemplo durante o transplante pra mim foi muito dificil o isolamento das visitas, durante todo meu tratamento fui visitada por amigos e familiares todos os dias o tempo todo, nunca ficava sozinha e no transplante era muito dificil não conversar com as pessoas, não ver meus amigos e etc, Skype e MSN foram aliados, falava com meus amigos, os via pela webcam ganhei até uma serenata (Gracias totales BSAS)

- Visitas (Conheço muitas pessoas que se fecham pro mundo e não querem receber ninguém, saibam vocês que a visita renova e revigora, traz notícias do mundo e distraem, eu sei que muitas vezes não dá vontade de ver ninguém na frente e tudo que agente quer é ficar sozinho porque nem mesmo agente se aguenta, mas as pessoas que te amam querem estar ao seu lado e elas só te ajudarão! Faça um esforço e as receba, você vai se sentir revigorado depois da visita)

- Saia do quarto (Lógico que somente com a autorização dos médicos e enfermeiros, mas se você for liberado coloque uma roupa e saia do quarto, mesmo com o carrinho de soro, mesmo com catéter, com bomba de infusão, com dreno ou com qualquer outra coisa. Sair nem que seja para dar uma volta no corredor faz bem pra saúde física e mental. Vá até a lanchonete, ao jardim, a maternidade ver os bebes, eu sempre que podia ia dar uma sacarutiada como já diria meu avô!)

Bom idéias não faltam, se fazer de vítima e reclamar é muito fácil, mas não há quem aguente, então bola pra frente, sem corpo mole!

Aproveito este post pra agradecer aos meus familiares e amigos por nunca esquecerem de mim e sempre darem um pulinho pra me ver independente do cansaço, do transito e de suas vidas ocupadas. Agradeço ao meu pai pelos fins de semana comigo e as muitas caminhadas no corredor. Ao meu avô que me levava todos os jornais e revistas que saíam na banca e principalmente a minha mãe, que além de ficar internada comigo, passando 40 dias lá no tédio, pela paciencia nos dias em que eu também não estava afim de fazer nada disso e o meu mal humor era visivel.

Amo todos vocês!

Beijos